outubro 20, 2006

O 'Muro' da Amazônia


15/out/06 – Apesar das indicações apontarem para uma provável reeleição do presidente Lula, é grande a correria nas hostes do ambientalismo. Pelo sim, pelo não, querem se valer do comprometimento de Lula com o aparato ambientalista e instaurar, ainda no atual governo, o que seria o coroamento da estratégia de isolamento e despovoamento da Amazônia: a consolidação de um enorme 'Muro' verde, se estendendo do Pará ao Acre, para impedir o acesso de humanos não autorizados aos protetorados verdes. A maiúscula é para ressaltar que tais métodos violam o direito de ir e vir em áreas públicas como ocorreu, por exemplo, com o famigeado Muro de Berlim.

São nada menos que 30 milhões de hectares de ‘reservas’ de vários tipos, entre as já existentes e a serem criadas, para bloquear o chamado “arco do desmatamento” por baixo e a “zona de exclusão” ao longo da rodovia Manaus-Porto Velho (BR-319) por cima. Segundo Tasso Azevedo, diretor do Serviço Florestal do Ministério do Meio Ambiente, trata-se da maior ofensiva já realizada em conjunto entre governos e ONGs ambientalistas para manter a maior floresta brasileira em pé: “Só para comparação, o Estado do Rio de Janeiro tem 4,4 milhões de hectares", jactou-se. [1]

A principal ‘brecha’ da muralha é o entorno da BR-319. A idéia é usar o “modelo BR-163” (Cuiabá-Santarém), que tem recebido críticas acerbas de algumas alas ambientalistas que não concordam com a inclusão de reservas de uso sustentável (que permitem algumas atividades extrativistas), querem-nas todas de ‘proteção integral’, vedadas a humanos sem crachá verde “made in England”. O objetivo tático da manobra é obstaculizar a formação de um corredor de desenvolvimento entre os dois pólos: Manaus, já razoavelmente industrializada e com perspectivas promissoras com a chegada próxima do gás de Urucu; e Porto Velho, cujo potencial de verticalização industrial será enorme se o Complexo do Rio Madeira for, de fato, implantado (ver documento “O Complexo do Rio Madeira e a Amazônia Industrial”).

Recorde-se que a outra brecha, na região do rio Juruena, foi fechada em junho passado por decreto presidencial comemorativo ao dia Mundial do Meio Ambiente. O Parque do Juruena, com 1,9 milhões de hectares (o quarto maior do país), está localizado estrategicamente no norte de Mato Grosso para “aferrolhar” quaisquer pretensões de implantação da hidrovia Tapajós-Teles Pires. "Nós fechamos a fronteira sul da Amazônia", comemorou na ocasião o secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (ex-ISA), João Paulo Capobianco, complementando que o novo parque é o tijolo final de um "muro" de unidades de conservação e terras indígenas que começa no Parque Indígena do Xingu e acompanha a divisa MT-PA-AM até Rondônia. [2]

De fato, com a criação do parque, Lula atendeu as exigências vocalizadas por Martin Kaiser, diretor internacional de política florestal do Greenpeace, feitas logo após o “pacote-verde” de fevereiro passado. De Hamburgo, na Alemanha, Kaiser afirmou que toda a “Floresta Amazônica precisa de um ‘green wall’, um muro verde formado por áreas de proteção, para ser preservada a longo prazo”.

A coordenar todo o processo de construção da “Grande Muralha”, encontra-se o WWF e suas centenas de milhões de dólares que estão sendo despejados à rodo para murar e patrulhar os territórios do império verde, operacionalizado pelo programa apropriadamente denominado como Amazon Region Protected Areas - ARPA.

Notas:
[1]'Muro verde' tenta barrar o avanço da soja na Amazônia, Valor, 13/10/06
[2]Lula amplia "pacto verde", Alerta Científico e Ambiental, 12/06/06

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